*Por Gustavo Loiola
O aumento das vendas de carros elétricos no Brasil parece apontar para um futuro mais limpo e sustentável. Em 2024, o país já registrou mais de 94 mil veículos leves eletrificados no primeiro semestre, superando o número total do ano anterior. Mas será que os carros elétricos são realmente a resposta definitiva para a redução das emissões de carbono, ou podem ser uma nova armadilha do marketing verde?
A verdadeira sustentabilidade dessa tecnologia ainda é questionável, especialmente quando consideramos os impactos ambientais e sociais ao longo de toda sua cadeia de produção. A produção de baterias para veículos elétricos, por exemplo, depende de minerais como lítio, cobalto e níquel, cujas práticas de extração e mineração são conhecidas por estarem ligadas ao trabalho infantil e a condições análogas à escravidão em diversos países.
Ainda, a falta de soluções eficazes para o descarte das baterias representa um grande obstáculo para a sustentabilidade dos veículos elétricos. Sem uma cadeia de reciclagem eficiente, os metais pesados presentes nesses equipamentos podem gerar novos problemas ambientais, criando um ciclo de impacto que contradiz a promessa de “emissões zero”. Ou seja, ser sustentável não se resume apenas ao uso do veículo.
Enquanto os desafios relacionados aos carros elétricos se tornam mais evidentes, o etanol segue sendo a opção mais viável e sustentável no Brasil. Produzido a partir da cana-de-açúcar, o etanol tem um ciclo de carbono quase neutro, já que a planta absorve gases de efeito estufa durante seu crescimento, compensando as emissões geradas na queima. Além disso, o etanol é renovável, não depende de extração mineral e possui uma infraestrutura consolidada no nosso país. O grande desafio é o custo x eficiência.
A recente Lei do Combustível do Futuro, sancionada em outubro de 2024, visa incentivar o uso de combustíveis sustentáveis, incluindo o etanol e outros biocombustíveis. A expectativa é de que a nova legislação torne o etanol ainda mais competitivo, oferecendo subsídios e incentivos fiscais para potencializar o mercado e fortalecer o protagonismo do Brasil na produção de energia renovável.
Na prática, a solução mais sustentável não é necessariamente uma questão de optar entre um carro elétrico e um carro movido a etanol, mas de encontrar um equilíbrio entre tecnologias complementares e garantir que os avanços no transporte sejam acompanhados de uma verdadeira responsabilidade social e ambiental.
*Gustavo Loiola é professor e consultor em ESG, além de Gerente de Projetos Educacionais no PRME/ONU.
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